sábado, 31 de julho de 2010

.: O Coração e o Desfibrilador :.

A sua frente, deitado numa maca, estava ele inerte. Ela o olhou com olhos de puro terror ao ouvir o aparelho de monitoramento cardíaco apitando de forma constante. Ali, naquela maca, estava o coração de alguém que não poderia partir assim. Por alguns instantes parou de respirar. Sua mente escureceu e subitamente quase caiu. Mas isso não podia acontecer. Ela sabia que tinha que agir. Virou-se imediatamente e pegou o desfibrilador que estava ao seu lado, e com o pouco de energia que sobrara do susto, o encostou naquele peito que tantas vezes se aconchegara relaxada. O corpo sacudiu ante a descarga elétrica. Seus ouvidos aguçaram para ouvir o monitor. Nada. Imagens de tudo o que já havia passado com ele apareceram em segundos. O carinho, a atenção, a dedicação, as horas de conversa, os momentos de fraqueza... Isso não podia estar acontecendo.
Mais uma tentativa. O corpo estremeceu pelo choque. Ouvidos aguçados. Nada. Suas mãos tremiam e suavam. Mais imagens de calor, amizade, contentamento. Monitor ainda constante.
Ele não podia desistir assim tão fácil. Ela não permitiria. Fez mais uma tentativa. O corpo sacudiu outra vez. Grossas lágrimas insistiam em cair por sobre a máscara. Já se sentia mais fraca tamanha a emoção e desespero que sentia no peito.
Ele não podia fazer isso com ela. Não podia desistir da vida assim. Ela sabia que ele era forte. Que precisava lutar. O fato de usar neste momento o desfibrilador provava o quanto aquele coração era importante pra ela. E ela não o deixaria desistir. Então, tomando aquele coração tão precioso nas mãos, o massageou com o maior cuidado e carinho. Com todo o amor que existia em si. O sangue quente escorria pelas mãos. O calor daquela vida que tantas vezes a aqueceu, estava agora em suas próprias mãos. E ela o massageou sentindo cada veia, cada artéria, cada músculo, pensando em todas as coisas boas que ainda poderiam acontecer. Ele precisava voltar pra ela. Ela o queria de volta pra sua vida. Ela precisava daquele coração batendo de novo junto ao dela.
De repente um apito. Seu próprio coração parou. Outro apito. E outro. E mais outro. Olhou o monitor e soltou um riso de alivio e alegria. Respirou fundo. Só então percebeu que ela mesma já quase desfalecia por não respirar.
Ele estava de volta. Seu coração precioso estava de volta! E ela não permitiria que aquilo acontecesse novamente. Não enquanto aquele coração estivesse sob seus cuidados.

[14/2/2010]


- E então descobriu que o poder da vida nunca esteve em suas mãos...

by A.
"Entrega teu caminho ao Senhor, confia nEle e Ele tudo fará." - Slm 37:5

sábado, 24 de julho de 2010

.: Vôo com destino a... Lugar nenhum? :.

Seus olhos atentos observavam cada movimento. Apertava tanto os apoios do assento que deixava as juntas dos dedos amarelas. Suas pernas mexiam de forma frenética, os joelhos para cima e para baixo. Não era a primeira vez que embarcava num vôo incerto, mas lembrar disso não aliviava o desconforto da situação. Sentia-se ansiosa, insegura, confusa. Tentava se acalmar mentalizando uma canção, orando baixinho, ou apenas... Observando. Pensava e queria descer, mas agora estava dentro, presa ao cinto de segurança e voando cercada de pessoas que não compreendiam o porquê de tanta agitação. Mas ela sabia. Ela entendia. Por tantas vezes quis fazer as coisas certas! Pensava mil vezes antes de agir. Fazia planos, traçava metas, e só então embarcava. E dessa vez não tinha sido diferente. Quando entrou naquele vôo, pensava que sabia onde ele a levaria, mas assim que decolou, percebeu que a paisagem lá fora era diferente. As coisas começaram a escurecer e ao invés de encontrar um dia ensolarado, passava por uma intensa turbulência. As nuvens escuras não a deixava ver mais adiante. A chuva castigava e agitava o avião. Fechou os olhos para não ver o tempo passar. Queria que a chuva passasse, que as nuvens saíssem e que o sol voltasse a brilhar. Queria que a rota que ela traçou a levasse onde planejou. Queria ver o que não conseguia. Queria que suas companhias fossem amigas para poder ao menos segurar sua mão e sentir paz. Mas lá estava ela nervosa, agitada, ansiosa e sozinha. Em seu pensamento, o vôo seguia com destino a qualquer lugar, ou a lugar nenhum. A chuva não passava. O vento continuava a agitar o avião. E pela janela só via as nuvens acinzentadas que cobriam, mais a frente, um lindo e brilhante nascer de sol.

By A.

[21/03/2007]

quinta-feira, 15 de julho de 2010

.: A Tartaruguinha do Papai :.

Era apenas um bebê quando aconteceu. Obra de papai. Ele diz que eu era uma criança esperta, inteligente, sorridente, mas muito devagar... Demorava pra tomar mamadeira, para ir de um lado para outro, ajuntar os brinquedos... Daí surgiu: tartaruga. Nunca me importei, embora seja um bichinho tão feio...
Não me lembro quase nada dessa época, mas me lembro de ser uma criança meio estranha. Sempre isolada, vivendo em um mundo paralelo. Não que eu não quisesse estar com as outras, mas tinha uma dificuldade imensa em me envolver. Olhava todos aqueles sorrisos e brincadeiras e queria estar ali no meio. Ao invés disso, pegava um lápis e papel e começava a desenhar. Na escola tive dificuldade em me concentrar no que era sendo dito, dificuldade em copiar as coisas da lousa, dificuldade em terminar provas... E continuava não conseguindo me adequar aos padrões comportamentais. Sem amigos, sem brincadeiras. Então quando alguém conseguia entrar no meu mundo, me apegava àquela pessoa como se fosse a única na terra. Amizade irrestrita e leal. Devoção total.
Claro que com isso eu acabava me machucando porque elas não podiam ficar ao meu lado o tempo todo. Elas partiam. E quando partiam, eu voltava a me isolar. Recolhia as patinhas de tartaruga pra dentro do casco e ficava lá até outro alguém aparecer e me tirar de lá. Então a tartaruga ganhou um novo significado.
A adolescência chegou. Não deixei de lado meus papeis e desenhos, mas adicionei o hábito de escrever, já que a dificuldade em falar ainda era grande. Mas me comunicava levemente melhor. Fiz amigos. Me apaixonei. Me machuquei... [E quem nunca teve um coração ferido?] E cada coração partido, maior a dificuldade em deixar que outras pessoas entrassem. Patinhas pra dentro, casco mais duro, isolamento.
Ainda hoje tenho dificuldade em me envolver com pessoas. Não sei a que isso se deve. Talvez o medo de perder. Talvez algum trauma vindo lá daquela época de infância. Mas sei que é difícil. Muito difícil. E olha que sou alguém que adora conversar. Adora rir. Adora fazer amizades. Só não sei ainda chegar nas pessoas. Não sei chegar e conversar. Minha comunicação é essa: desenhos e textos.

Hoje a tartaruga impera na minha vida mais que nunca. Sou devagar, sim. Sou casca dura, sim. Demoro a compreender muitas coisas que acontecem comigo, sim. Demoro a gostar de alguém, sim. Demoro mil vezes mais pra esquecer. Me recolho no meu “casco” quando me sinto ameaçada, nervosa, triste... Ou quando quero apenas refletir sobre a vida.
Sou tartaruga sim. A tartaruguinha do papai, que independente das minhas dificuldades em dizer com palavras o que sinto, dos meus isolamentos, das minhas dúvidas, insanidades, doidices, me ama incondicionalmente.


Paizinho, eu já quase te perdi muitas vezes, e sei que um dia isso pode acontecer efetivamente nesse mundo cruel que vivemos, e temo por esse dia, mas quero que saiba que EU AMO VOCÊ! Amo mais que sorvete de flocos. Mais que pizza de Margueritta. Mais que suco de cupuaçu com leite. TE AMO mais que qualquer homem que possa passar pela minha vida. TE AMO INFINITAMENTE MAIOR QUE O UNIVERSO. TE AMO sem medidas.
E obrigada por me amar o dobro.

Sua tartaruguinha e filha para todo o sempre,
Alessandra

.: Muralha :.

Estava alta, muito alta. Gostaria muito, mas não sabia se deveria. Aquela muralha vinha sendo construída a cada palavra dita, a cada olhar, a cada “não” que ouvia, a cada gesto negativo. Mas gostava de desafios. Gostava de se aventurar, de suar a camisa, de se esforçar, só pra saber o que havia do outro lado do muro. Caminharia por toda a “muralha da China” que foi construída a fim de ver o que havia no final dela. Mas dessa vez, não sabia se estava disposta. Gastar forças e tempo naquilo que, ao final, não teria recompensa?
Já havia feito isso antes. Usou toda sua energia e perdeu tanto tempo escalando montanhas, atravessando mares, pra no final não encontrar o que tanto procurava e ainda sair e mãos abanando.
E ali estava ela novamente olhando para cima. Olhando aquela grande muralha.

Ela gostaria. Ela bem que gostaria. Mas não sabia se podia perder mais uma vez.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Perda


"Ao perder a ti, tu e eu perdemos.
Eu, porque tu eras o que eu mais amava
E tu, porque eu era o que te amava mais
Contudo, de nós dois, tu perdeste mais do que eu
Porque eu poderia amar a outra como amava a ti
Mas a ti não te amarão como te amava eu."

(Ernesto Cardinal)

domingo, 11 de julho de 2010

.: E Quando Menos Se Espera... :.

Tudo indicava que aquele seria um dia dos namorados como outro qualquer.
Já acordou irritada. Tomou seu banho, fez aquela maquiagem, vestiu botas, cachecol, uma capa preta e, antes de sair de casa, publicou seu ódio por esse dia no twitter e MSN.
Durante as horas de trabalho, olhou alguns rostos bonitos e pensou “por que eles não olham para mim?”.
Mais um dia dos namorados sem namorado. Já estava acostumada. Odiava o dia dos namorados. Odiava casais felizes exibindo seus sorrisos e presentes para quem quisesse ver. Odiava ter que presenciar a felicidade dos outros enquanto ela ficava sozinha sonhando com o dia que esse ódio passaria. Ela havia recebido convites, mas os recusara. De que adianta sair com pessoas que não lhe despertava interesse? Que não conseguiriam calar a solidão em seu peito? Tarde longa. As horas passavam e nada indicava um fim diferente.
Até que a noite chegou trazendo com ela um convite: “Vamos ao jantar dos namorados comigo?”
Há tempos atrás ela o havia visto na casa da prima. Garoto estranho, magrela, com um sorriso enorme e que não parava de olhar. Mas ela nem lhe deu atenção. Sendo amigo de quem era, nem queria saber.
E agora, ali estava ele, com um sorriso envergonhado, curvado no vidro do carro fazendo o convite. Por um momento processou a informação. O desconhecido garoto parecia mais amedrontado que ela. Pensou novamente. Comida boa e de graça... Pleno sábado à noite e ela indo pra casa... Por outro lado, teria que agüentar os pós comentários dos amigos e familiares que assistiam tudo de camarote. Pensou, pensou e pensou... E resolveu aceitar.
Ambiente romântico. Pizza, luz de velas, corações, fotos, timidez e conversas.
Para sua surpresa, ele conversava e sorria com autoridade. Era inteligente. Tinha conteúdo. Falava sobre tudo. E de repente viu-se encantada pelo desconhecido. Magicamente a noite transformou-se. Era toda sorrisos. Passara o dia odiando o que mesmo?
Voltou para casa sorrindo. E quando já se preparava para deitar, um torpedo: “Obrigado pela companhia”.
Deu-se então o início a uma seqüência de torpedos, emails e telefonemas trocados. Noites com longas conversas. Depoimentos bonitinhos no Orkut. Um encontro. Dois encontros. E outros... Mais outros... Presentes. Minutos contados. Sorrisos. Um pedido de namoro.
O que parecia que se tornaria um grande desastre tornou-se sua alegria.
Odiava o dia dos namorados, mas foi nele que reaprendeu a sorrir. Odiava o dia dos namorados, mas foi nele que seu coração aqueceu. Odiava o dia dos namorados, mas foi nele que encontrou o seu.

Quando menos se espera, ela te encontra. Quando pensa que não há saída, não há lugar, não há solução, não há mais onde procurar, ela te encontra. Não ouse fechar os olhos. Ela está bem ali, no óbvio ou no escondido, no claro ou na escuridão, na esquina ou a distancia... Ela está. Ela existe. Ela vive...
Quando menos se espera...
De onde menos se espera...
A felicidade.



Bey, estou muito feliz por ter encontrado, por ter olhado, por não ter se importado com comentários, por ter ousado. Feliz por encontrar alguém que a faça sonhar, que te faça sorrir, que compartilhe, que tenha pulso e coragem de assumir o que sente. Feliz por sua felicidade. E que esta não seja passageira.
E mesmo que passe, estou feliz porque essa felicidade personificada já te tem feito sonhar sonhos maiores e melhores.
Te amo!

quarta-feira, 7 de julho de 2010

.: Trato :.


Sim, eu sou inconstante.
Não, eu não sou linear.
Passo da euforia a depressão em questão de segundos.
Ajo com impulsividade. Se isso me põe em problemas? Claro que sim! Mas ainda não sei agir de outra forma.
Sou totalmente independente e ao mesmo tempo preciso de toda a atenção do mundo. Carente. Complexa. Confusa.
Às vezes sou o frio do inverno. Outras vezes sou vulcão entrando em erupção.
Posso ser donzela e também carrasco.
Garota má?! Apenas quando não estou apaixonada.
Por isso, escute garoto. Vamos fazer um trato. Eu não me apaixono por você, você não se apaixona por mim, e assim seremos felizes para sempre.


A.
[04/2010]

domingo, 4 de julho de 2010

.: Lettera :.

Fabiana, Sinceramente, tenho vontade de te dizer muita coisa, mas ao mesmo tempo não quero dizer nada. Só o que posso dizer é que eu não consigo te perdoar. Sinto raiva todas as vezes que me lembro, sem querer, das coisas que vc me disse, raiva da minha inocência ao pensar que o que não existia era realmente tempo, raiva por acreditar que vc um dia 'recompensaria meu sofrimento'. Ao mesmo tempo que te adoro, te desprezo. Não quero mais sentir meu coração batendo do jeito que está agora por sua causa. Não quero conversar com vc e sentir todo aquele bom sentimento voltando, aquela paixão, aquela alegria. Acabou! Eu não quero mais! Toda vez que penso em vc, sinto como se arrancasse mais um pedaço de mim, e eu já quase não existo mais. Estou tão cansado disso, cansado de chorar por nada, por algo que não existe e que talvez nem tenha existido de verdade. Vc ainda mexe comigo, Fabiana, então eu PRECISO de tempo. Talvez um dia a gente volte a conversar, ou pode ser que isso nunca mais aconteça. Só que, por enquanto, não dá. Não consigo. Ainda sinto a sua falta, sinto uma vontade imensa de te escrever e contar as coisas que acontecem, boas e ruins, mas se eu não deixar de falar com vc, isso não vai passar. Pensei que tinha passado. Pensei que já tinha te deixado, mas não. Você permanece viva dentro de mim. E eu não quero te tratar mal por causa disso... Sorry.

by A.

[dezembro/2005]

sábado, 3 de julho de 2010

Preste Atenção

Certa vez, um homem caminhava pela praia numa noite de lua a cheia.Pensava desta forma:
se tivesse um carro novo, seria feliz;
Se tivesse uma casa grande, seria feliz;
Se tivesse um excelente trabalho, seria feliz;
Se tivesse uma parceira perfeita, seria feliz.
De repente, tropeçou numa sacolinha cheia de pedras.Ele começou a jogar as pedrinhas uma a uma no mar cada vez que dizia:Seria feliz se tivesse.
Assim o fez até que somente ficou com uma pedrinha na sacolinha, que decidiu guardá- la. Ao chegar em casa percebeu que aquela pedrinha tratava-sede um diamante muito valioso.
Você imagina quantos diamantes ele jogou ao mar sem parar para pensar?

Assim são as pessoas… jogam fora seus preciosos tesouros por estarem esperando o que acreditam ser perfeito ou sonhando e desejando o que não têm, sem dar valor ao que têm perto delas. Se olhassem ao redor, parando para observar, perceberiam quão afortunadas são.
Muito perto de si está sua felicidade. Cada pedrinha deve ser observada, pois pode ser um diamante valioso.Cada um de nossos dias pode ser considerado um diamante precioso e insubstituível. Depende de cada um aproveitá-lo ou lançá-lo ao mar do esquecimento para nunca mais recuperá-lo.

A morte não é a maior perda da vida. A maior perda da vida é o que morre dentro de nós enquanto vivemos.

********************
E você, o que anda fazendo com suas “pedrinhas”?

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Coisas que Aquecem

Em momentos de dor e tristeza muitas vezes falamos e pensamos coisas que nem sempre estão corretas. Não sou dona da verdade e tenho apenas a minha perspectiva das coisas. Em nenhum momento me eximi de culpa. Mas falo e repito: num relacionamento que não da certo nunca erramos sozinhos.

Mas como escrevi no final das minhas lamúrias, quero acabar com todo esse sofrimento e dor, e uma das muitas formas de conseguir isso é vendo as coisas legais que estão acontecendo ao meu redor enquanto “choro”.


Quando tinha 15 anos conheci Alexandre. Feio, branco como leite, repleto de espinhas na cara, um bigodinho recém formado pela adolescência, um cabelo com um topete black terrivelmente horrível e magrela. Eu ainda tinha pensamentos que se misturavam entre criança e adulto, sem saber ao certo o que ou quem era. Uma típica adolescente. Mesmo não tendo essa definição, sabia que ele não era MESMO atraente. Mas alguma coisa atraia meu olhar pra ele. E era estranho que qto mais desviava o olhar, mais olhava... Vai entender.

Acho que ele deve ter pensado que eu estava paquerando ele, pq depois desse dia ele não largou mais do meu pé. E tanto insistiu e persistiu que namoramos. Era divertido. Passeávamos bastante. Conheci todos os shoppings de Sampa da época, comi coisas e em lugares diferentes... Por 9 meses foi assim até que sem motivos, terminei. Assim, do nada. E ele não veio atrás, então aparentemente foi bom pra ele tbm.

Nos encontramos novamente quando tinhamos 19 anos. Ele já não estava assim tão feio e já tinha um filho.

E a ultima vez que nos encontramos já tínhamos 24 anos. Estava diferente... Mais maduro, mas sem perder o jeito de moleque maluco. Depois desse ultimo encontro não nos vimos mais, nem nos falamos.



Sete anos se passaram.



Sexta-feira passada [25/06/2010] recebi um email:

Assunto: Sanny meu eterno anjo é você...

Corpo do e-mail: Eu para sempre vou te amar....porque só é possivel te amar.....adoraria te rever, te ter, comunicação via indio....qualquer coisa assim..."Pra ser sincero"



Era ele aparecendo novamente. Tanto tempo sem conversar, sem ver, sem ter notícias e ele ainda diz que vai me amar pra sempre. Doidinho como sempre.

Pouco depois ele entra no msn [nunca haviamos conversado por esse meio]. Conversamos rapidamente.



Sábado a noite na festa da cunhada a mesa vibra.

Torpedo: "Eu só quero que você saiba que eu estou pensando em você."



Adorável.

Pensei "Até quando vou viver nessa de quem eu quero não me quer e quem me quer... "



Domingo em casa a campainha sinalizando novo torpedo toca: “ Noite fria. Vontade de um abraço quente... Seu abraço quente com gosto e cheiro de um tempo inocente. Quem disse que o futuro não devolve o troco do passado." Apenas sorri e meneei a cabeça.



Ontem voltando pra casa pensando na semana dificil que passei toca o celular. Ele novamente. Eu me encontrava chorando e ele apareceu pra me fazer esquecer pelo menos por 15 min. a minha dor. Falei que não podia neste momento corresponder aos sentimentos e expectativas dele.



Já em casa, pronta para dormir chega outro: "64 km de congestionamento, Tim Maia no rádio.Eu tenho tanto calor pra compartilhar que gosto da idéia de me achar no teu olhar. Sonha Sanny, sonha vai."

Faz bem saber que existe alguém que não te esqueceu, que lembra da nosso namoro inocente de "criança" e que sente saudade. Aquece o coração.


Mas agora, e o medo que fica? Estou paralizada. Preciso enfrentar. Mas não agora.

Como uma frase que uma amiga me enviou hoje diz,


"Não ouse roubar minha solidão

se não fores capaz de me fazer real companhia"



Não quero algo que seja eterno enquanto dure. Quero que dure para que seja realmente eterno.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Apenas escrevendo...

[19:30]
Normalmente quando sento para postar aqui, tenho idéias pré-concebidas, coisas que fiquei pensando durante o dia ou coisas que pensei há tempos, mas nunca tinha colocado em palavras. E hoje chegando em casa senti vontade de simplesmente sentar e escrever como um desabafo. Despejar sentimentos e pensamentos que tenho guardado há tanto tempo, reprimindo, remoendo. Não quero pensar se alguém passa por aqui de vez enquanto, se preciso me preocupar com quem lê ou deixa de ler, se conheço ou não tal pessoa, afinal, pela ausência de comentários, sinto que este é praticamente um blog anônimo, e sendo anônimo posso ser mais sincera e aberta em relação a tudo o que sinto nos últimos tempos. Sem máscaras.

No início no ano passado me perguntava o que era pior, se ter o coração vazio ou cheio de alguém que não corresponde aos seus sentimentos. Naquela ocasião sentia meu coração até fazendo eco de tão vazio. Ninguém pra sonhar, pra pensar ou sentir saudade. Nada. E era ruim. Muito ruim.
No final do mesmo ano me apaixonei por alguém. Não sou dada a paixões instantâneas. Nem combina comigo, até porque sou uma pessoa muito medrosa em relação a sentimentos e coração. E até sair a primeira vez, ele era apenas um cara legal e gentil que conheci. Mas aquele encontro foi tão impressionante e único que pensei “Esse cara é o cara. É ele!”. Sim... Senti uma sintonia, uma sincronia incrível entre nossos pensamentos, planos e sonhos, e pensei que esse sim valeria a pena me apaixonar. Assim começou uma seqüência de passeios e telefonemas longos que duravam horas e horas, altas madrugadas rindo ou chorando, se identificando cada vez mais. E a cada momento junto, mais eu o queria pra mim.
Os dias foram passando e... Não deu. Ele queria que eu fosse uma coisa que eu não era, queria que logo de cara já me mostrasse incrivelmente apaixonada, sendo que sempre fui reservada. Não que não quisesse, apenas tenho uma personalidade diferente. Gosto de me entregar quando confio que aquela coisa é certa, mas ele não me deixava certeza em nenhum desses encontros. Nos dávamos perfeitamente bem. Falávamos sobre tudo sem enjoar. Quanto estávamos juntos, tudo era fantástico e mágico, mas quando íamos falar ao telefone ele se mostrava tão inseguro que simplesmente não encontrei onde me apoiar. Não podia apoiar apenas em meus próprios sentimentos, eu precisava dele. Precisava que ele me dissesse “É agora. Vamos tentar”. E ele não disse. Dizia apenas que não conseguia confiar em mim. Parecia apaixonado, mas quando pensava que a coisa ia engrenar, a insegurança batia nele de novo. E essa insegurança toda foi desgastando o que vivíamos. Ele inseguro e eu cada vez mais envolvida. E algo muito ruim aconteceu nesse meio tempo. Rolou uma certa pressão psicológica, e eu que já não estava muito equilibrada por causa de um relacionamento anterior repleto de problemas (e põe problema nisso), só piorei. No fim, ele enxergou mais meus defeitos do que minhas qualidades. Viu coisas que não existiam baseando-se em suas próprias percepções e compreendendo mal palavras que eu dizia e coisas que contava. Me cobrou tanto para que eu mostrasse o que eu sentia e queria, e ficou tão preso nisso, que não enxergou meus esforços em demonstrar. Por mais que eu fizesse, nunca era o suficiente. Tirei meus dois pés do chão para que ele visse o quanto o queria, e ao tirar, caí. E cai muito, muito feio. Me espatifei no chão porque quando estava no auge dos meus mais nobres sentimentos ele disse “Não dá”. O que eu pensava ser uma grande demonstração de carinho e sentimento ele pensava que eu estava levando tudo na “bola de meia.”
Poucos dias depois desse fim de um início que nem existiu, descobri que o que eu via nele não era exatamente a realidade. Eu julgava que ele era apaixonado por mim, que me queria tanto quanto eu o queria, mas ao atualizar o perfil do seu Orkut li :

“No poder de uma grande afeição, o impossível torna-se possível. Somos libertos do medo que nos trava. Sabemos que não temos como perder porque não temos nada a perder. Viver sem risco é arriscar não viver”.

Bonito, né?! Mas onde estava toda a afeição que parecia ter por mim em nossas conversas e encontros? Onde estava o poder que lança fora o medo? Onde estava a vontade de viver algo inédito e incrível?
Medo. Era isso que eu causava. Medo. O medo que paralisa. Que impede de tentar. De arriscar. Medo.
Sofri. E, mesmo passado bastante tempo, ainda sinto sua falta. Falta daquele cara por quem me apaixonei. O cara que me fez sonhar com filhinhos lindos de olhos grandes e cabelos lisos. Que me fez assistir algo que detesto só pra entrar no seu mundo. O cara que me fez rir até das coisas mais sem nexo e sem propósito. Que eu gostava de estar ao lado em silencio só pra sentir seu calor e seu cheiro.
Ainda lutei. Ainda quis. Ainda insisti. Passei por cima do meu orgulho e brio para passar mais um momento com ele. E foi a pior coisa que fiz. Devia ter deixado. Devia ter esquecido. Devia ter ignorado. Eu devia, mas não fiz. Apenas sofri. E sofro cada vez que me lembro desse último encontro. Me arrependo de cada palavra dita, de cada ação, de cada som que saiu da minha boca, da musica, das lágrimas. Me arrependo de não ter me valorizado e por ter permitido tamanha invasão na minha vida, nas minhas dores e nas minhas memórias.
Às vezes me pergunto se vale a pena mesmo se apaixonar, se entregar, se deixar conquistar. Sei que esses são pensamentos negativos de quem está ferido, mas a cada relacionamento que não dá certo, mais tranco, mais me reservo. E chego até a pensar que não serei mais capaz de dar algo realmente bom pra alguém que me ame de verdade...

Hoje tenho certeza que é mil vezes melhor um coração oco, vazio, do que ter o coração preenchido por alguém que não está disposto a viver com você e por você. E ainda mais terrível é quando você não superou sua dor e a pessoa já esta envolvida com outra. Isso dói. Dói demais. Mas é a vida... Pra uns corre, pra outros, como eu, passa em slow motion (que só é emocionante em vídeos).
Alguns amigos me criticam por recusar todos os convites que recebo pra sair. Mas assim como demoro a entregar meu coração, demoro o dobro pra esquecer. Não sei gostar pouco. E se amo, quero por perto. Insisto. Procuro. Defendo. Protejo. Mantenho. E não quero aborrecer pessoas que não tem nada a ver com isso com minhas lágrimas e dores. Não saio por não querer enganar essas pessoas que demonstram gostar muito, mais do que posso corresponder. Não gosto de ser enganada, porque enganaria alguém que diz me amar?

Cansei de ser boazinha e ter esse coração enorme que quer manter aquecidas em meu peito todas as pessoas que me conquistaram no passado. Cansei. Por isso, neste momento, corto laços com aqueles que só eu vou atrás. Pessoas que não me aceitam. Pessoas que me rejeitaram. Pessoas que não querem conversar comigo. Corto laços.

Cortei.

E que este seja um novo começo de uma vida onde eu me dê mais valor do que fiz até agora.

Ato os laços com aqueles que me que me aceitam assim como sou: chatinha, bravinha, com cara de “to nem ai”, implicante, dengosa, chorona... mas que tem um coração que cabe todos eles.

Agradeço a meus amigos e família que me apoiaram e me suportaram nesses momentos terríveis de dor, de lágrimas e fúria.

Desculpe derramar minha dor assim pra você. Mas meu coração assim partido não se cura em dias ou meses... E quando cura (se é que cura) deixa cicatrizes profundas e doloridas por toda a vida.


by A.
[01/07/2010 - 21:55]