domingo, 30 de maio de 2010

.:: Lembranças de Outra vida ::.

Sentada na cama com olhos assustados e vermelhos, olhava os estragos que havia feito. Em sua mente, como um mantra, a mesma frase se repetia. Absorta em seus pensamentos balançava o corpo freneticamente para frente e para trás. Ao redor, páginas arrancadas sem piedade de sua agenda jaziam amassadas e úmidas de lágrimas sobre o edredom. Ainda assim, sentia que isso não era o suficiente. O que mais restava? O que mais precisava? De um estalo, jogou as cobertas de lado. Lembrou-se daquele isqueiro a tantos anos guardado sem utilidade em sua gaveta. Juntou aqueles papéis , cartões não entregues, poemas escritos sem mais propósito, revistas, panfletos, tickets de entradas, tudo num bolinho, e levou ao jardim. Era aquela a hora.
Papel um, isqueiro aceso. Fogo. Papel dois, isqueiro aceso. Fogo. E assim foi... Um a um, até não precisar mais do isqueiro. A luz alaranjada aquecia sua face fazendo brilhar as lágrimas que teimavam em cair. As chamas quentes faziam crepitar a grama seca do jardim, juntamente com os papeis que, aos poucos, iam sumindo. O vento frio soprava as cinzas do que noutro tempo fora um lembrete constante da felicidade que almejava num bailar fascinante de pontos negros pelo ar, levando embora o que sobrou de seus pensamentos, atos e palavras que tanto a alegrava.
Era o passado. Perdidos desejos. Sonhos desfeitos.
Pensamentos registrados ali, agora não faziam mais parte do que deveria ser lembrado.
Palavras perdidas. Lembranças de outra vida.

by A.

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