Sentada na cama com olhos assustados e vermelhos, olhava os estragos que havia feito. Em sua mente, como um mantra, a mesma frase se repetia. Absorta em seus pensamentos balançava o corpo freneticamente para frente e para trás. Ao redor, páginas arrancadas sem piedade de sua agenda jaziam amassadas e úmidas de lágrimas sobre o edredom. Ainda assim, sentia que isso não era o suficiente. O que mais restava? O que mais precisava? De um estalo, jogou as cobertas de lado. Lembrou-se daquele isqueiro a tantos anos guardado sem utilidade em sua gaveta. Juntou aqueles papéis , cartões não entregues, poemas escritos sem mais propósito, revistas, panfletos, tickets de entradas, tudo num bolinho, e levou ao jardim. Era aquela a hora.
Papel um, isqueiro aceso. Fogo. Papel dois, isqueiro aceso. Fogo. E assim foi... Um a um, até não precisar mais do isqueiro. A luz alaranjada aquecia sua face fazendo brilhar as lágrimas que teimavam em cair. As chamas quentes faziam crepitar a grama seca do jardim, juntamente com os papeis que, aos poucos, iam sumindo. O vento frio soprava as cinzas do que noutro tempo fora um lembrete constante da felicidade que almejava num bailar fascinante de pontos negros pelo ar, levando embora o que sobrou de seus pensamentos, atos e palavras que tanto a alegrava.
Era o passado. Perdidos desejos. Sonhos desfeitos.
Pensamentos registrados ali, agora não faziam mais parte do que deveria ser lembrado.
Palavras perdidas. Lembranças de outra vida.
by A.
domingo, 30 de maio de 2010
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