Sentindo-se velha e cansada, a ave voava ao redor da montanha. Já havia escolhido o lugar ideal, mas por mais que tentasse, não conseguia. Pousava, ficava, esperava, lutava, se concentrava e como nada acontecia, voltava a voar. Foram dias e dias de muitas tentativas. Fizera isso outras vezes, mas não compreendia porque dessa vez não conseguia. Tentava relembrar o processo. Nada.
A primeira vez que viu suas asas queimar sentiu-se aterrorizada. Pensou que jamais voaria novamente, mas ao contemplá-las agora, mal lembrava que um dia deixaram de existir.
Uma grande tempestade estava a caminho. Podia ver a escuridão do céu se aproximando. Voou mais uma vez até o alto da montanha entre as pedras escarpadas de seu ninho improvisado. Tinha que ser agora. A velocidade fazia com que suas penas, serpenteantes ante o vento, reluzissem na fraca luz do dia. Planava junto ao solo rochoso e já sentia a brisa trazendo gotículas da chuva vindoura.
Era ali, próximo a um arbusto, numa caverna aberta pela ação do tempo. Baixou as asas e pousou caminhando brevemente para a escuridão. Aconchegou-se entre as pedras já percebendo faíscas saindo sob as penas avermelhadas. Abriu as asas, levantou a cabeça aguardando o que esperara por tanto tempo. Pequenas labaredas logo se transformaram em grandes chamas que envolviam todo seu corpo. Lá fora a chuva agora caia torrencialmente, com raios, relâmpagos e trovoadas cortando o céu. Um leve trinado se ouvia entre as crepitações do fogo e o som da chuva. Altas chamas agora consumiam a ave que aos poucos se rendia a sua sorte. Em pouco tempo tudo acabou. Do fogo só restaram as cinzas de onde a ave havia se aninhado.
Silencio.
Não se ouvia mais a chuva. Um vento suave entrava pela caverna onde a fumaça que se extinguia lentamente...
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by A.
domingo, 29 de agosto de 2010
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